terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Capítulo Um


- Olha só, Silvinha: o anúncio foi pra encontrar alguém pra dividir o apê com a gente. Não pra achar uma pretendente pra você.
Depois de uma mordida no pão que segurava, de boca cheia mesmo, os farelos saltando a torto e a direito, Silvinha respondeu:
- Mas podemos unir o útil ao agradável, não podemos? Quem sabe a minha alma gêmea não acaba vindo parar aqui dentro?
Depois de uma risada absolutamente escrachada, Cris retrucou:
- É, até poderíamos...
Desligou o fogo, pegou a chaleira e derramou a água fervendo no coador de café em cima da garrafa térmica. Depois completou:
- Se essa coisa de alma gêmea existisse.
Já com a xícara estendida, Silvinha disse:
- Amiga, se eu não te amasse tanto diria que... Putz, Cris... Você é horrível!
A reação de Cris foi voltar a rir. Enquanto enchia a xícara de Silvinha direto do coador. A superioridade de sempre na voz, quando contestou:
- Horrível não. Realista.
Foi a vez de Silvinha rir:
- Realista? Insensível, isso sim!
Ainda segurando o coador e a térmica, Cris perguntou:
- Insensível por quê?
Voltou a depositar tudo em cima do mármore da pia. Pegou duas fatias de pão de forma e colocou na torradeira, enquanto Silvinha dizia:
- Ah, Cris... Nem vem! Você nunca está sozinha. Nas raras ocasiões em que está solteira, tem esse sem número de... Como eu posso definir? Mulheres satélite?
Cris pegou o pote de geléia e uma colher. Gargalhando. Antes de virar-se para a amiga:
- Olha lá! Mais respeito! Me apaixono facilmente. Não tenho culpa, não é mesmo? Queria o quê? Que eu ficasse igual a você: solitária enlouquecida, numa cruzada em busca da mulher da minha vida?
Brandiu a colher imitando movimentos de esgrima. As duas riram. Antes de Silvinha novamente responder:
- Não, né. Mas também não precisa ir passando o rodo pelo caminho... Afinal, como diz o ditado: quem muitas ama, não ama ninguém...
Cris enfiou a colher no pote, e colocou uma porção tão grande de geléia na boca que teve dificuldade em dizer sem babar nem cuspir:
- Nem vem! A diferença entre nós, Silvinha, é só uma. – parou para engolir - Eu sei aproveitar a vida enquanto espero.
Lambeu a colher até deixá-la completamente limpa. Nesse momento, os pães saltaram. Com tanta força que se projetaram. O primeiro caindo no chão. O segundo, Cris conseguiu interceptar com um pratinho:
- Definitivamente, precisamos consertar essa torradeira!
Pegou a fatia do chão, com a intenção de jogá-la no lixo. Mas Silvinha a impediu:
- Jogando comida fora? Que desperdício! Me dá isso aqui!
Soprou o pão, afirmando, convicta:
- O que não mata engorda, amiga!
Atacaram juntas o pote de geléia. Disputando quem conseguia besuntar primeiro a própria fatia. Como sempre, Silvinha.
Sentou vitoriosa na cadeira onde estava antes, e após morder o pão como se estivesse faminta, prosseguiu:
- Quer dizer então, que só está aproveitando enquanto espera... Espera o que, posso saber?
Com a mesma forma exagerada e melodramática com que mordeu o pão, Cris esclareceu:
- A mulher certa. A que vai dar sentido a minha vida vazia. Aquela destinada a fazer com que todas as outras pareçam invisíveis, nada, ou... Restos.
Silvinha sacudiu a cabeça negativamente, em total desaprovação:
- Pobre coitada. Resto é o que vai sobrar pra ela, isso sim.
Fazendo Cris rir. Da forma mais sacana possível:
- Tenho culpa se passaram mel em mim?
Silvinha pensou alto. Simplesmente escapou:
- Pois em mim devem ter passado esperma!
As duas se olharam, antes de exclamarem juntinhas:
- Eca!
Riram gostosamente. Terminaram de tomar o café. Silvinha lentamente, com cuidado para não queimar a boca. Cris praticante de um gole só.
Enquanto ajudava Cris a colocaram a louça na pia, Silvinha insistiu:
- Pois meu lema vai continuar o mesmo: pra que esperar, se posso buscar?
Cris a olhou reprovando completamente:
- É por isso que nenhum relacionamento seu dá certo. Ansiosa demais, assusta as mulheres. Acabam todas correndo de você. Vai é arrumar um jeito da sua alma gêmea nem passar por perto!
Silvinha mostrou a língua para a amiga, antes de dizer:
- Isso é o que nós vamos ver!
De uma forma muito, mas muito determinada mesmo.

 
Silvinha havia acabado de tirar o jaleco, pronta para sair do laboratório e ir almoçar, quando o celular tocou. Procurou em cima da bancada, na própria mesa, na bolsa.
Nada.
Tentou seguir o som, mas parecia vir de todos os lados... Ou então... Sempre de onde estava... Olhou para baixo... Para o casaco de moleton que estava usando. Colocou a mão no bolso em frente à barriga... E o aparelho estava lá. Igual a um filhote de canguru escondido.
Felizmente, ainda não havia parado de tocar. Pela persistência, Silvinha já sabia quem era:
- Fala, Cris!
A voz do outro lado reclamou como sempre fazia:
- Caramba, Silvinha! Será que algum dia você vai atender sem eu ter que ligar pela terceira vez? Se fosse a tal alma gêmea, já teria desistido...
Riu sozinha da própria gracinha. Silvinha não deixou barato:
- Me ligou pra ficar fazendo piadinha?
Imediatamente, Cris retrucou:
- Nope! Pra te contar o péssimo andamento das coisas.
Já sabendo do que se tratava, Silvinha primeiro suspirou. E só depois falou:
- Tá. Manda. Quantas você já descartou hoje, senhorita nenhuma é boa o bastante para morar com a gente?
Ignorando a ironia da amiga, Cris questionou:
- Me diz só uma coisa, amiga: você pendurou o anúncio num aeroporto?
Silvinha não respondeu. Ao invés disso perguntou:
- Por quê?
Cris não agüentou:
- Deixa eu ver: porque hoje ligaram uma alemã, uma japonesa e uma argentina. Ou isso, ou estamos com falta de brasileiras no Rio de Janeiro.
Silvinha confessou:
- Coloquei num hostel. Algum problema?
- Não, mas... Não prestou, porque... Nenhuma serviu.
Silvinha olhou no relógio: uma boa parte do almoço perdida. Foi curta e grossa:
- Vamos lá, jogo rápido: a alemã não servia por quê?
- Ela simplesmente desligou.
Obviamente, Silvinha não acreditou:
- Como assim, desligou do nada?
- Tá... Eu fiz uma brincadeirinha.
- Cris...
- Nada demais...
- Cris...
- Eu só falei uma coisinha...
- O quê?
- Heil, Hitler!
Silvinha explodiu:
- Puta que o pariu, Ana Cristina!
O nome completo era sinal de que a amiga estava realmente brava. Mas Cris defendeu o próprio comportamento com o jogo de cintura que o trabalho de assessoria de marketing lhe conferia:
- Se ela não tem um mínimo de humor negro, não ia mesmo conseguir conviver comigo...
Silvinha preferiu não discutir:
- E a japonesa?
- Não falava português. Only English...
- E daí? Eu falo inglês fluentemente, e você também.
- Pô, Silvinha. Pra morar comigo tem que falar a minha língua.
Silvinha não agüentou. Teve que rir. Tentou disfarçar:
- E a argentina?
- Era argentina.
Apesar de duvidar que existisse algum sentido ou explicação plausível naquilo, Silvinha tentou desvendar o raciocínio da amiga:
- Será que perdi alguma coisa? Por que essa eu realmente não entendi.
- Me recuso a dormir no quarto ao lado do de uma pessoa que acha que Maradona é melhor do que Pelé!
- Surreal! - foi o que Silvinha pensou ao ouvir.
Mais ainda com o que veio a seguir: um barulho de descarga inconfundível.
- Cris, eu não acredito! Sabe que eu detesto quando você vai ao banheiro enquanto fala comi...
- Pera! Só um minutinho!
Durante os instantes que se seguiram, Silvinha ficou se esforçando para não imaginar o que a amiga estava fazendo... Sem conseguir. Podia quase ouvir o barulho do papel higiênico. Com uma careta, deixou escapar novamente:
- Puta que o pariu, Ana Cristina!
Que obviamente, Cris não ouviu. Ainda levou algum tempo para voltar, como se nada tivesse acontecido:
- Pronto! Pode falar, Silvinha!
Pelo barulho de água, Silvinha já sabia: lavando as mãos, enquanto equilibrava o celular entre o ombro e o ouvido...
Não disse mais nada. Nem poderia. Apenas suspirou, resignada. Já estava acostumada. Afinal... Aquilo era total e absolutamente Cris.


- Porra, Silvinha! A gente não tinha combinado que ia sempre fazer uma prévia por telefone antes de deixar qualquer uma vir aqui?
Silvinha gritou da cozinha:
- Tive que abrir uma exceção, amiga. A garota não é qualquer uma. Tem referências. E preferência! Pensa: prima da minha amada chefinha.
Cris não pareceu muito convencida:
- Pois não espere que eu faça reverências! Pouco me importa de quem ela é prima. Pode muito bem ser uma psicopata ou uma maníaca...
Como num passe de mágica, teve toda a preocupação dissipada pela aparição de Silvinha trazendo duas caipirinhas:
- Relaxa, porque a menina já deve estar quase batendo aí.
Mas ainda perguntou, enquanto pegava o copo que Silvinha estendia:
- Pelo menos sabe o nome da nossa nova roommate escolhida por puro nepotismo?
Silvinha não deu muita trela:
- Sei lá. Esqueci. Começa com B... Mas pra que diabos você quer saber?
Enquanto misturava melhor a bebida com o dedo enfiado no meio do gelo, Cris descascou:
- Pra que seria, né, Silvinha? Pra fazer a numerologia! Eu, hein? Bom, daqui a pouco nós vamos descobrir. – se ajeitou melhor no sofá, e mudou o tom completamente – Quer saber? Quando o estupro é iminente, relaxe e...
Completaram juntinhas:
- Goze!
Beberam ainda rindo. A careta de Cris após o primeiro gole fazendo Silvinha perguntar:
- Forte demais?
Cris assentiu. Para logo depois completar:
- Abusou, hein amiga? Álcool na veia! Já me vi deitada na sarjeta com uma cachorra desconhecida lambendo a minha boca por muito menos...
Silvinha teve que rir:
- Ah, claro! Que desculpa mais perfeita pra atos de promiscuidade: foi o álcool! Acontece que na verdade, bêbados só fazem aquilo que realmente têm vontade. É como diz o ditado: a bebida entra, e a verdade sai...
Olhando para cima, e deixando escapar um suspiro exasperado, Cris replicou:
- Tá bom, Silvinha! Lindo bla bla bla., mas... Primeiro tome um porre, uma vez que seja, pra depois poder falar!
Voltou a sentar no sofá, no momento exato em que o interfone tocou. Silvinha correu para atender:
Cris ouviu a amiga quase gritar para o porteiro, empolgadíssima:
- Manda subir!
Antes de voltar para a sala correndo. Visivelmente ansiosa, ajeitando as roupas e o cabelo:
- Tô bem assim?
Fazendo Cris frisar, da forma mais implicante e irônica possível:
- A pretendente é para o quarto, queridinha. Não pra você.
Mas Silvinha não se deixou abater:
- Quem sabe? Estou com um pressentimento que... – a campainha tocou. Ela completou, antes de atender – Bom... Nós já vamos ver.
Abriu a porta, e...
De onde estava sentada, Cris não conseguiu enxergar, mas pôde imaginar, antes mesmo da garota entrar, só de ver a reação de Silvinha. 
Levantou quase correndo por dois motivos: o primeiro, uma curiosidade irresistível. O segundo, para salvar a amiga, uma vez que...
Silvinha continuou paralisada, completamente muda em frente à porta. De queixo caído...


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OBS IMPORTANTE: 
A história não está completa, disponibilizamos apenas os três primeiros capítulos para degustação. 



19 comentários:

  1. •.¸¸.ஐBruneLLa França disse...

    Postar a continuação só na quarta-feira que vem é de uma maldade sem tamanho, dona Diedra!
    Ri horrores aqui com essas duas!
    Amay demais (novidade?!)
    beijoooooooooos
    Bru
    ◄ 17 de março de 2010 12:57

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  2. Té disse...

    ARRASOU DI!!!

    o problema é que agora vou ficar me remoendo de curiosidade até a próxima quarta!

    td que vc escreve já deveria vir em livro!!! pq daí não existiriam problemas com ansiedade...
    se bem que, pensando melhor, assim, em doses, é mais emocionante!!

    BJÃOZÃO!!
    Stella
    ◄ 17 de março de 2010 13:07

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  3. •.¸¸.ஐBruneLLa França disse...

    SUPEEEEEEEEEEEEER CONCORDO COM A Te!
    "td que vc escreve já deveria vir em livro"
    \o/
    outros beijos
    ◄ 17 de março de 2010 13:19

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  4. Mel C disse...

    obaaa

    To adorando, mto engracado.

    Di, é impressao minha ou a Cris sente algo pela Silvinha??

    hahhaha

    beijo
    ◄ 17 de março de 2010 13:32

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  5. adryanna disse...

    Concordando com com o comentario q tudo q vc escreve deveria virar livro,até ja te disse isso no orkut quando comentei sobre O Livro Secreto Das Mentiras e Medos...

    Mas falando do conto,,Adorei a Cris e a Silvinha,dei muita risada com elas...agora imagino como sera essa pretendente...

    Qbom Diedra conto novo...bjos e inté quarta.
    ◄ 17 de março de 2010 13:50

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  6. ju audi disse...

    Uma vez por semana? Só?????

    Céussss rs

    Já estava ficando em cólicas. Tempo que tu não posta algo novo. Minha expectativa só crescia.
    Nada como ficar ansiosa por um próximo cap seu. Amo muito tudo isso. Senti falta disso.

    Dúvidas de que estarei sempre aqui? Acho que não, né? kkkk

    Super beijo em ti e na patroa. Rs
    ◄ 17 de março de 2010 14:22

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  7. Val disse...

    Pra variar ansiosa com o próximo capitulo;)
    ◄ Responder Comentário 17 de março de 2010 14:55

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  8. *!*↑α Ŋℓğą↓*!* disse...

    ... NoOoOOssa ótimo!!! ...

    ... Engraçado e envolvente, aguardo 4ª Feira ansiosa!!! ... rs
    ◄ Responder Comentário 17 de março de 2010 16:11

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  9. helô disse...

    Depois de ler o primeiro capítulo e saber que sera um por semana, tenho certeza que vou precisar tomar rémedios pra ansiedade rsrsrs brincadeira,mas adorei!bjs
    ◄ Responder Comentário 17 de março de 2010 18:37

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  10. gilda5lopes disse...

    delícia... delícia... como tudo que vc escreve, Diedra. Aliás... adorei a parte da Cris ao telefone no banheiro ... hilária!!!
    beijos imensos
    ◄ Responder Comentário 17 de março de 2010 19:26

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  11. Ana Maria disse...

    Di, adoro suas "histórias", pena que elas veem aos poucos.... Beijos Chris
    ◄ Responder Comentário 17 de março de 2010 23:29

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  12. juliana vieira disse...

    ahhh fiquei curiosa!!!!
    quarta tahh mto longe, pecado isso heimmm rsrs

    amei o começo do conto... ansiosa pelo próximo!!
    bjuus
    ◄ Responder Comentário 17 de março de 2010 23:47

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  13. Súh disse...

    Como assim??
    Como você para aí Di??
    Que sofrimento esperar até 4ª que vem...rsrs

    Perfeito, continua!

    Ps: puts, me descreveu na Cris, tirando a parte de falar no celular enquanto está no banheiro..aHUAHua

    Beijos querida!
    ◄ Responder Comentário 18 de março de 2010 00:43

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  14. Aninha disse...

    só na quarta...assim vc mata de curiosidade....muito bom,num vejo a hora de chegar quarta que vem....bjssss
    ◄ Responder Comentário 18 de março de 2010 02:26

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  15. Mery disse...

    Soltando fogos pelo novo romance.

    Mas tô sentindo que não vai prestar esse negócio de TRÊS... Sei lá ! Confusão na certa !

    Adorando sua veia cômica cada dia mais à mostra.

    Beijo.
    ◄ Responder Comentário 18 de março de 2010 18:04

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  16. Olivia disse...

    Adorei a veia comica, já estou ansiosa por quarta.
    Beijão
    ◄ Responder Comentário 18 de março de 2010 22:15

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  17. elna disse...

    oi menina...

    mto bom o conto,suspense heim,rs

    anciosa pelo próximo cap..se bem q a próxima quarta esta longeeeee...

    bjs
    ◄ Responder Comentário 19 de março de 2010 02:12

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  18. jackeline disse...

    Adorando e é só o começo...
    Concordo co Mery, sinto cheiro de triângulo...parabéns e obrigada por compartilhar...bjinhos
    ◄ Responder Comentário 19 de março de 2010 12:37

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  19. May disse...

    Vivaaaaaaaa!!!! Tva mesmo com saudade de ver essa menina em ação de novo!
    ◄ Responder Comentário 23 de março de 2010 18:01

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