Cris quase correu até a porta:
- Oi, prazer! Eu sou Cris, e essa aqui é a Silvinha.
Estacou com a visão que teve. A morena absolutamente...
- Bárbara.
A única coisa que Cris conseguiu pensar, enquanto apertava a mão que o mulherão estendeu, foi:
- Realmente...
Tempo para Silvinha se recuperar o suficiente para sair da frente, permitindo que a pessoa que mais combinava com o próprio nome que já haviam visto entrasse.
Depois de fechar a porta, Silvinha conseguiu gaguejar um inseguro:
- Não quer sentar?
Que Cris completou indicando a caipirinha que ainda segurava:
- Quer uma?
Com um sorriso tão simpático que chegava a ser indecente.
Bárbara sentou no sofá, cruzou as pernas absolutamente perfeitas, passou a língua nos lábios de uma maneira inacreditavelmente obscena, e só então respondeu:
- Obrigada. Eu aceito.
No primeiro momento, nenhuma das duas se moveu. Hipnotizadas pela mulher monumento. Depois, Cris deu um empurrão em Silvinha, dizendo:
- Vai lá você.
Muito a contragosto, Silvinha obedeceu. Cris então voltou toda a atenção ao espetáculo que tinha na frente:
- E então... Bárbara, né? – a morena assentiu com a cabeça – O que você...
Foi interrompida pela campainha. Caminhou até a porta após pedir:
- Com licença...
Aproximou-se do olho mágico achando estranho. Com certo receio. Afinal... Não estavam esperando ninguém, e assaltantes invadindo prédios e fazendo moradores de refém era moda na Zona Sul do Rio de Janeiro...
Silvinha gritou da cozinha:
- Quem é?
Ao mesmo tempo em que Cris olhava, e via... Uma garota de roupas muito coloridas voltar a tocar, com evidente impaciência, a campainha.
- Quem é?
Ainda perguntou, desconfiadíssima. Poderia muito bem ser a isca, e os bandidos estarem escondidos...
No entanto, a resposta foi surpreendente:
- Sou a Brenda. Vim ver o apartamento.
Abriu a porta, ainda sem entender. Não teve tempo de falar, porque... Foi com uma rapidez inacreditável que todo o resto aconteceu...
A garota vestida de forma carnavalesca arregalou os olhos, chocada com sabe-se lá o que... O berro de pavor que Silvinha soltou da porta da cozinha ecoou por toda a sala... Cris se virou e também não acreditou no que viu...
Bárbara inteiramente despida, com exceção de uma calcinha minúscula e absolutamente transparente, os sapatos de salto agulha e um chicotinho que brandia no ar, enquanto dizia com uma voz grave e dominadora:
- Vou mostrar quem é que manda aqui, cadelas!
A garota multi colorida exclamou:
- Meu Deus, o que é isso?
Silvinha gritou:
- Cacilda Becker! A prima da minha chefe é sadomasoquista!
Cabendo a Cris tentar recuperar a ordem e o controle:
- Que putaria é essa? Cadelas vírgula! Tá pensando o que, minha filha?
Bárbara abaixou o chicote, completamente surpreendida:
- Ué... Não era isso que vocês queriam? Mas foi o pedido...
Imediatamente, Cris inquiriu:
- Pedido? Que pedido?
Como resposta, a dominatrix ainda despida questionou:
- Aqui não é o 207?
Foi Silvinha quem respondeu:
- Não.
Com um suspiro exasperado, Bárbara soltou:
- Ai, cacete! – começou a se vestir, enquanto falava – Eu sinto muito, meninas. Errei de apartamento...
Cris deixou escapar sem querer:
- Tava bom demais pra ser verdade...
Bárbara parou na frente dela - toda arrumada de novo, com a bolsa pendurada, pronta para seguir seu rumo – e falou:
- Fica chateada não, gata. Toma. – entregou um cartãozinho para Cris – Me liga, que eu compenso o transtorno te fazendo um precinho camarada.
Completou a frase com uma piscada sedutora, antes de perguntar:
- Alguém sabe onde fica o 207?
Foi Silvinha quem respondeu:
- No corredor lá do outro lado.
Cris continuou parada, segurando o cartão, olhando fixamente para a retaguarda da prostituta que se afastava...
Só voltou a se mover quando ouviu Silvinha falar para a garota que permanecia boquiaberta do lado de fora:
- Vamos entrar?
Silvinha ofereceu a caipirinha que ainda estava segurando – a mesma que havia acabado de fazer para mulher de vida fácil – para a prima da chefe, com um sorriso quase melado:
- Quer?
Brenda olhou para ela, ainda desconfiada – ainda estava nervosa por causa do susto que havia levado - mas resolveu aceitar:
- Por que não?
Surpreendentemente, Silvinha continuou tomando a frente:
- Senta. Fica à vontade.
Cris ficou observando, sem dizer uma palavra. Na verdade, ainda pensando no que poderia ter acontecido se a chatinha no sofá não houvesse aparecido e feito a gostosuda descobrir que estava no lugar errado...
- Mas então... Fala um pouco de você, Brenda. O que você faz?
A pergunta inesperada a assustou. Ou talvez Brenda tenha chupado o canudinho com vontade demais... O fato é que se engasgou, tossiu, e acabou respondendo um pouco afogada:
- Sou figurinista, aderecista e cenógrafa.
Cris a olhou como se ela fosse de Marte:
- Ãh?
Brenda então fez questão de informar:
- Formada em Belas Artes na UFRJ.
Mas Cris ainda estava achando sobrenatural:
- Você vive de teatro?
O canudo fez um barulho alto, informando que a caipirinha dela havia terminado, antes de Brenda completar:
- Também trabalho com Carnaval. Bom, se isso é um problema, eu...
Fez menção de levantar, mas Silvinha a interrompeu:
- Pelo contrário! É muito legal. Eu acho o máximo!
Brenda tentou entender:
- O que? Carnaval?
Imediatamente, Silvinha esclareceu:
- Não! Quer dizer.... Também... Eu... Eu adoro arte!
Cris franziu a testa... O passeio preferido de Silvinha era ir ao Shopping Center... Mas não falou nada.
Com uma ousadia que nunca havia sonhado, Silvinha voltou a perguntar:
- E você está... Solteira?
A resposta foi rápida:
- Acabei de me separar.
Não satisfeita, Silvinha foi ainda mais arrojada:
- Era casada com homem? Ou mulher?
Cris não conseguiu segurar. Deixou escapar um:
- Afe!
Brenda também soltou sem pestanejar:
- Homem. Por que? Faz diferença pra vocês?
Cris começou:
- Na verdade...
Mas Silvinha não a deixou terminar. E foi verdadeiramente abusada:
- Nós somos lésbicas. – olhou Brenda dentro dos olhos, antes de completar: - Algum problema?
A resposta veio sem hesitar, nem piscar:
- Claro que não.
Continuaram se fitando profundamente. Um olhar repleto de significado. Até Brenda desviar para o copo que ainda segurava.
Toda solícita, Silvinha fez questão de oferecer:
- Quer mais?
Brenda aceitou, e agradeceu. Silvinha pegou o copo que a outra estendia, prolongando o contato das mãos muito mais do que o necessário...
Depois puxou Cris para a cozinha, se desculpando de forma exagerada:
- Com licença. Só um momentinho. Minha amiga vai me ajudar. Vamos te deixar um pouco sozinha, mas é rápido. Por favor, fique à vontade. Sinta-se... Em casa!
Assim que se viram à sós, Silvinha sussurrou:
- Nossa... Você viu que perfeita?
Cris respondeu com um sorriso safado:
- Bárbara, de verdade! Era algo, mas...
Silvinha a cortou, indignada, mas ainda sem falar num volume normal:
- Não... A Brenda...
Cris não entendeu mais nada:
- Brenda? Quem é Brenda?
Silvinha tapou a boca da amiga bem rápido, antes de voltar a sussurrar:
- Psiu! Ela vai ouvir... Fala baixo... A mulher da minha vida, que tá sentada lá na sala.
A perplexidade fez Cris quase gritar:
- Quê? A Carnavalesca que pelo jeito passa o ano fantasiada?
Com um olhar perdido, de um jeito quase visionário, Silvinha prosseguiu:
- Minha alma gêmea... Meu par perfeito... Minha cara metade... Tenho certeza! Posso sentir que estamos... Pré destinadas...
Cris só percebeu que estava sacudindo a amiga quando levou com os cabelos dela na cara:
- Silvinha, para com isso! Deixa de loucura! A maluca beleza multi color é prima da sua chefe, vai morar com a gente, não tá vendo que é roubada?
A primeira reação de Silvinha foi gemer e xingar:
- Ai! Cacilda Becker! Meu braço vai ficar todo roxo... Me solta! Puta que o pariu, Ana Cristina! Ai, ai!
Sem dar a menor importância para os protestos de Silvinha, Cris voltou a avisar:
- Esquece essa insanidade! Vamos voltar lá pra sala, e você vai fingir que é uma pessoa normal, tá?
Depois que Cris finalmente a soltou, Silvinha pareceu concordar:
- Tá.
Para logo depois, mostrar o quanto estava mal intencionada:
- Mas antes vou preparar mais caipirinhas para nós. Várias!
Sussurrou para si mesma:
- A bebida entra e a verdade sai...
Não baixo o bastante para a amiga não escutar. Cris tentou dar de ombros, sem resultado. Tinha certeza, antes mesmo de voltarem para a sala:
- Isso não vai prestar!
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A história não está completa, disponibilizamos apenas os três primeiros capítulos para degustação.